Agricultura tradicional dos apanhadores de flores sempre-vivas se torna patrimônio mundial

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“Um sistema agrícola tradicional na Serra do Espinhaço, no Estado de Minas Gerais, foi reconhecido como Sistema de Patrimônio Agrícola de Importância Global (GIAHS), gerenciado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). É a primeira vez que uma localidade brasileiro conquista o reconhecimento do GIAHS.” (FAO – Food and agriculture organization of the united nations)

Os/as Apanhadores/as de Flores como auto se denominam habitam a porção meridional da Serra do Espinhaço, porção central do estado de Minas Gerais, na região da cidade de Diamantina. A coleta de flores sempre vivas constitui-se como uma tradição e fonte de renda fundamental para a reprodução sociocultural das famílias em comunidades rurais. Há cerca de 90 espécies manejadas de flores, com diversos formatos e cores, que ocorrem nos campos rupestres do cerrado e dizem respeito ao termo popularizado para estas inflorescências que depois de colhidas e secas, conservam sua forma e coloração. Além das flores são também coletadas diversos tipos de folhas, frutos secos dentre outros produtos ornamentais a depender da época do ano.  Esses produtos exclusivos da Serra do Espinhaço são em sua maioria exportados para Estados Unidos, Europa e Ásia.

Geralmente as moradias das famílias encontram-se agrupadas em comunidades rurais nas terras baixas (600 metros de altitude). Já os campos de coleta e criação de gado estão nas terras altas (1.400 metros de altitude), conhecidas como terras de uso comum das famílias. São, portanto, terras ancestrais dessas famílias, que usam e conservam a biodiversidade, as águas e os solos por meio de práticas tradicionais baseado nos ciclos naturais. As águas que brotam em suas terras alimentam importantes bacias hidrográficas nacionais: rios Jequitinhonha, São Francisco e Doce, sendo a abundância de água ressaltada pelos moradores como importante patrimônio herdado.

Na época da seca, é comum as famílias permanecerem por longas jornadas sobre os campos das terras altas para a coleta das flores, manejo do gado rústico, e de animais de carga e para tal se alojam nas lapas (grutas nas formações rochosas) ou em “ranchos”. Já na época das chuvas, as famílias praticam agricultura tradicional nas terras baixas próximo às casas,, com uso de sementes tradicionais adaptadas às condições locais, para consumo familiar e abastecimento alimentar regional. Há ainda quintais ao redor das moradias gêneros alimentícios variados, criação de pequenos animais caipiras e uma rica cultura alimentar que compõe a culinária mineira. Normalmente o trabalho é realizado pela família, sendo constante a realização das atividades de forma artesanal. Os moradores também colhem plantas medicinais, madeira e frutos nativos do cerrado para uso familiar e comunitário e há festas religiosas próprias de cada localidade. A biodiversidade nativa manejada e a biodiversidade agrícola cultivada e criada somam mais de 400 espécies distintas, das quais 94 são cultivadas. 

As comunidades que compõem o Sistema Importante do Patrimônio Agrícola Mundial estão localizadas nos municípios de Diamantina, Buenópolis e Presidente Kubitscheck. Os/as Apanhadores/as de Flores, através da Comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Apanhadoras de Flores (CODECEX), lutam pelo seu reconhecimento sociocultural e econômico de forma a viabilizar a manutenção do seu modo de vida tradicional em suas terras ancestrais para as gerações atuais e futuras e a geração de renda das famílias vinculada a esses produtos da sociobiodiversidade brasileira. Essas comunidades são guardiãs de um rico patrimônio agrícola e biocultural com papel diferenciado para os contextos brasileiro e global, dada a sua função socioecológica atual e sua importância histórica e futura, em uma paisagem manejada singular de intensa beleza.

O processo de reconhecimento das comunidades contou com a participação de pesquisadores da UFVJM, UFMG, USP e UFJF.
Abaixo os pesquisadores responsáveis pela elaboração do Dossiê submetido à FAO:

Fernanda Testa Monteiro – Laboratório de Geografia Agrária da USP
Claudenir Fávero – Núcleo de Agroecologia e Campesinato da UFVJM
Aderval Costa Filho – Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais – GESTA/UFMG
Maria Neudes de Oliveira – Núcleo de Ecofisiologia Vegetal da UFVJM
Gustavo Soldati e Reinaldo Duque – Laboratório de Etnoecologia e Agroecologia da UFJF

 

O GESTA felicita todas apanhadoras e apanhadores de flores sempre-vivas por essa importante conquista.

 

Trecho traduzido da noticia do link abaixo:
http://www.fao.org/news/story/en/item/1265507/icode/

Para mais informações em português é possível acessar a ficha do caso e uma matéria da agência minas gerais:
https://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/conflito/?id=259
http://www.2015-2018.agenciaminas.mg.gov.br/noticia/agricultura-tradicional-dos-apanhadores-de-flores-sempre-vivas-pode-se-tornar-patrimonio-mundial

 

 

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