A GENTE TEM QUE FALAR AQUILO QUE A GENTE TEM QUE PROVAR

A tese examina o conflito vivenciado pelos moradores do Bairro Camargos, em Belo Horizonte, a partir da instalação de um incinerador de lixo industrial e hospitalar nas proximidades de suas moradias. A análise se inicia recompondo a trajetória de constituição do bairro e seu processo histórico de transformação em uma localidade habitada, urbanizada e preenchida de sentimentos de pertença. Ênfase é dada aos
entrelaçamentos entre a produção da paisagem e a produção dos corpos que a habitam, evidenciando a continuidade de uma geopolítica dos riscos que atualiza as relações de classe no espaço urbano. No campo da regulação ambiental dos riscos, observa-se que
as mobilizações locais de resistência à incineração são capturadas pelas exigências de uma lógica específica de evidenciação do dano. Nesse conflito, destaco que a capacidade de lidar com os problemas de saúde ambiental está fortemente constrangida pelas dinâmicas regulatórias e seus regimes de produção do saber, incluindo o uso que é feito das incertezas e controvérsias científicas relativas à incineração e seus efeitos sobre a saúde. São examinados ainda os processos de silenciamento e subalternização colocados aos moradores que instados a participarem das dinâmicas deliberativas e regulatórias, veem suas reivindicações e narrativas esvaziadas. Com efeito, argumento que na luta pela evidenciação do dano, os espaços institucionais de participação e defesa dos direitos acomodam mecanismos produtores de sofrimento social.

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