Navegar o Xingu, navegar o poder: Um estudo autoetnográfico das práticas de consultoria no contexto do licenciamento ambiental da barragem Belo Monte, Amazônia

Esta tese trata da produção de uma etnografia das práticas de consultoria ambiental no contexto do licenciamento da usina hidrelétrica Belo Monte, localizada na Volta Grande do rio Xingu, estado do Pará, região Norte do Brasil. Para tanto, trago à tona um relato autoetnográfico da minha experiência como analista de campo numa empresa de consultoria ambiental, responsável pela execução de estudos ambientais e pelo acompanhamento de medidas de mitigação e compensação ambiental da navegação empreendida pelas populações da Volta Grande durante a instalação da hidrelétrica na região, entre os anos 2010 e 2013.

O objetivo do trabalho é refletir sobre os desafios enfrentados pelos analistas de campo das empresas de consultoria ambiental numa cultura institucional que busca assegurar os interesses financeiros dos empreendedores, tal como a construção de uma usina hidrelétrica no prazo definido pelos investidores. A descrição desses desafios abriu uma ampla reflexão sobre as relações de poder que governam as práticas de consultoria ambiental no Brasil, expressa, por exemplo, na forma como os efeitos de uma barragem (ou “impactos”, no jargão dos consultores) são definidos a partir do discurso oficial da regulação ambiental, o qual está marcado pelo subdimensionamento ou omissão de seus agravos.

Nesse trabalho, argumento que as definições sobre os efeitos dos empreendimentos são sobretudo construídas na interação entre o alto escalão das empresas de consultoria ambiental e o alto escalão das empresas empreendedoras. Partindo da exposição da hierarquia de cargos das consultorias – na qual o alto escalão é composto por gerentes e coordenadores que administram os contratos de prestação de serviços ambientais desde os escritórios-sedes, geralmente situados nas grandes cidades da região Sudeste do país; enquanto o baixo escalão é composto pelos analistas de campo que executam as ações ambientais no chão da obra de um empreendimento –, busco descrever como os analistas de campo se movem no terreno social das consultorias e como esse movimento pode (ou não) influenciar o campo político das definições dos efeitos sociais dos empreendimentos.

Meu interesse é registrar o movimento, na ação e no pensamento, dos analistas de campo num terreno social altamente hierárquico e como esse movimento pode (ou não) afetar o curso de suas trajetórias profissionais. É nesse sentido que uso o conceito de “navegação social”, cunhado por Henrik Vigh: um conceito utilizado para compreender como os atores sociais, a partir de posições e condições de poder específicas, se movem dentro de suas formações sociais e como esse movimento busca moldar suas circunstâncias de vida.

PALAVRAS-CHAVE: Antropologia, Licenciamento ambiental, Belo Monte

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