“NEM SÓ DE MINERAÇÃO VIVE O MATODENTRO”: A EXPERIÊNCIA DE JOVENS EM TERRITÓRIO DE CONFLITO SOCIOAMBIENTAL
Esta tese de doutorado discute os modos de subjetivação de jovens que vivem em um cenário de conflito socioambiental causado pela instalação de um grande projeto extrativista. Por meio de pesquisa empírica, investiguei como jovens moradores de uma região do interior de Minas Gerais sentem, refletem e se posicionam em relação à transformação das condições socioambientais em seu território de vida. Entendo a subjetivação pela referência a dois conceitos: a experiência como encontro e choque do sujeito com as coisas do mundo sensível; e a narrativa, enquanto momento de figuração e interpretação dessas experiências. O projeto Minas-Rio consiste na extração de minério de ferro na Serra da Ferrugem, município de Conceição do Mato Dentro (CMD), interior de Minas Gerais. A construção da infraestrutura para a extração em grande escala desse mineral se iniciou em 2009 e desde então vem gerando problemas sociais e ambientais na região. O trabalho de campo desta tese foi realizado entre os meses de abril e novembro de 2012. Baseado na perspectiva etnográfica, utilizei diferentes recursos metodológicos como observação, entrevista e roda de conversa, para entender a experiência e as narrativas dos jovens do MatoDentro. A instalação do empreendimento Minas-Rio gerou situações de conflito em diversos âmbitos, tais como: meio ambiente, cultura, sexualidade, família, trabalho, economia. Nas comunidades rurais próximas à mina, a poluição e degradação de rios, o fechamento de estradas, o barulho e a poeira geram medo e angústia na população local. Embora os moradores do MatoDentro se queixem do projeto, o mesmo consegue apoio de grande parte da população com o aumento de renda e emprego na região, além da promessa de melhorias na saúde e educação. Tais aspectos fundamentam a expectativa de desenvolvimento, discurso fundamental para entender o contexto local. As mudanças no lugar são marcadas por contradições que se revelam também nos efeitos subjetivos. Dessa forma, há diferentes modos de viver este processo. Os jovens sentem as mudanças e se subjetivam oscilando entre posições mais “otimistas”, ancoradas na perspectiva do desenvolvimento, e entre modos de subjetivação marcados pela angústia e tristeza, efeito da soma dos danos socioambientais no presente com a extrema preocupação em relação ao destino do MatoDentro.