Ser criança de comunidade atingida: infâncias e juventudes no desastre de Fundão em Mariana (MG)
O rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015, no município de Mariana (MG), transformou por completo e definitivamente as vidas das pessoas atingidas. Desde então, o desastre se reproduz no tempo e no espaço como uma crise crônica (Vigh, 2008), que toma forma no cotidiano de fragmentações e inseguranças vivido pelas comunidades ao longo de toda a bacia do Rio Doce. Neste trabalho, uma análise crítica desse processo é feita a partir das vivências de um grupo social específico: as crianças e os jovens de comunidades rurais atingidas de Mariana. O objetivo é compreender de que forma suas infâncias e juventudes são vividas tendo como contexto o desastre de Fundão. Para tanto, traçamos análises qualitativas baseadas, sobretudo, em experiências compartilhadas em campo com crianças e adultos dessas comunidades. A pesquisa evidencia, em primeiro lugar, as afetações decorrentes dos processos de deslocamento forçado aos quais as famílias foram submetidas. Diante de contextos familiares distintos, observamos uma experiência comum, entre as crianças e os adolescentes, ligada a prejuízos aos modos de brincar, aos processos de socialização e à escolarização. Em seguida, mostramos como elementos da memória e da territorialidade se articulam produzindo um forte sentimento de identidade e de pertencimento das novas gerações em relação à sua comunidade e ao território atingido. Por fim, a conquista dos reassentamentos coletivos nos permite refletir sobre o horizonte de futuro imaginado pelos adultos e sobre as diferentes formas através das quais as crianças e os adolescentes vivem suas vidas no presente.
Palavras-chave: Desastre; Mineração; Crianças; Infâncias; Juventudes.