SOB AS VESTES DE SERTÃO VEREDAS, O GERAIS. ‘Mexer com criação’ no Sertão do IBAMA
O fulcro desta tese é desvelar as transformações nos usos do território que compuseram ‗o Gerais‘ em Sertão do IBAMA, como nomeio a nova territorialização. Para tanto, apresento a etnografia realizada com o vaqueiro Samuel Borges do Santos, mais conhecido como Samu, no noroeste mineiro, onde foi implantado o Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Busco como ponto de partida desta travessia etnográfica responder à seguinte questão: como descrever a dinâmica da relação entre Samu e os gestores do parque, sobre o uso da terra, da forma como é vivida pelo vaqueiro? Samu, como protagonista dessa etnografia, justifica-se por ser ele figura emblemática das transformações ocorridas naquele território: num primeiro momento como agregado de uma fazenda pecuarista, posteriormente proprietário de terra e, atualmente, morador de parque. Diante desse cenário, várias foram as temporalidades descortinadas pelo vaqueiro – temporalidades que se apresentaram imbricadas. A partir do cruzamento dessas temporalidades, desvelou-se um modo de vida regido por uma ética camponesa, bem como o valor econômico e social do ‗mexer com criação‘, que se encerra na homologia entre o vaqueiro e o gado bovino e eqüino. Os tempos de outrora em seu entrelaço com os novos tempos trouxe à luz, ainda, a transferência do modelo de relação que Samu desenvolvia com seus patrões para a sua relação com o IBAMA, como forma de resistência para se manter junto à terra, a despeito das vestes apertadas que revestem ‗o Gerais‘.