Todo dia “tá” faltando água” : dramas vividos nas afetações do empreendimento Minas Rio nos corpos d’água
A região do Médio Espinhaço, em Minas Gerais, constitui uma nova fronteira minerária, devido à expansão e instalação de projetos de exploração de itabiritos com baixo teor de ferro. O empreendimento Minas-Rio, da Anglo American, situado nos municípios de Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim, vem causando diversos danos às comunidades locais desde 2007. Tais efeitos foram agravados com a operação e expansão do projeto. Com a instalação da mineradora os moradores das comunidades afetadas, apontam o assoreamento e a poluição dos corpos d’água, que tinham um papel fundamental nas estratégias de vida (Tôrres, 2014). Embora essas transformações tenham desestruturado o modo de vida das famílias/comunidades, a Anglo American não reconheceu as comunidades como atingidas (Santos, Milanez, 2018). Em 2020, as comunidades de Água Quente e Jassém vivenciaram um momento de terror, quando as sirenes de emergência da barragem dispararam acidentalmente. A empresa iniciou as negociações com as famílias seguindo parâmetros formulados sem a devida participação das comunidades, conhecido como Programa de Negociação Opcional. Diante disso, algumas famílias foram realocadas nos locais chamados Fazenda Piraquara e Simão Lavrinha. O trabalho em questão foi desenvolvido com dois objetivos principais: entender, de uma forma geral, os diversos aspectos das afetações nos corpos d’água; compreender como a realocação das famílias em um local que impossibilita a manutenção de seus modos de vida. Com base nos trabalhos de campo realizados, a partir de observação participante, diversos problemas, como a insegurança hídrica em Piraquara, visto que a empresa furou poços artesianos que não apresentaram condições para a captação. As famílias continuam sendo abastecidas precariamente através de galões de água e caminhões pipas na Fazenda Piraquara. Ademais, há problemas estruturais na construção das casas, as famílias permanecem sem a documentação de posse dos terrenos. Aliado à revisão bibliográfica sobre as comunidades e as afetações nos corpos d’água provocados pela empresa, ressaltamos que o quadro de sofrimento dessas famílias persiste. Os danos não foram reparados com o processo de realocação, como era o imaginado pela comunidade, e a situação se agravou tendo em vista que o novo local não possibilita as mesmas estratégias de vida (Bebbington, 2011), que não se restringem aos aspectos materiais, mas englobam as dinâmicas de trabalho, territorialidade, estruturas sociais e as suas rotinas.
Palavras chave: Conflitos; Mineração; Justiça Ambiental; Afetações hídricas; Sistema Minas-Rio.